O sino da Igreja Matriz de Nossa Senhora de Sant’Ana, na cidade de Areias, interior de São Paulo, é um dos símbolos mais marcantes da história local. Com cerca de 1,5 metro de altura e pesando 1.100 quilos, o sino foi doado em 1863 pelo Major Manoel da Silva Leme. Importado da Bélgica, ele é feito de uma liga especial que inclui bronze, estanho, ferro, cobre e até ouro, o que refletia o período de grande prosperidade econômica impulsionado pelo cultivo do café na região.

Além de seu valor material, o sino desempenhou um papel central na vida da comunidade. Ele não servia apenas para anunciar as missas e celebrações religiosas, mas também marcava acontecimentos importantes da história do Brasil. Tocou, por exemplo, para celebrar o fim da Guerra do Paraguai em 1870, a assinatura da Lei Áurea em 1888, e até durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Também foi usado em ocasiões especiais, como a visita do imperador Dom Pedro II e da Princesa Isabel à vila.

Imagem – Facebook da Prefeitura de Areias
O sino também entrou para a literatura brasileira. Monteiro Lobato, em sua obra “Cidades Mortas”, faz menção ao sino de Areias, descrevendo-o como “o mais violento perturbador do silêncio”, numa referência à força simbólica e sonora do instrumento na vida cotidiana da cidade. A menção feita por Lobato eternizou a relevância do sino como um elemento não apenas religioso, mas também cultural e literário.
Infelizmente, na década de 1970, o sino original sofreu rachaduras que comprometeram sua acústica. Sem recursos e sem uma política de preservação adequada naquele momento, a decisão foi de fundi-lo em Uberaba, Minas Gerais. A peça foi restaurada, mas sua sonoridade nunca mais foi a mesma. Atualmente, o sino restaurado já não é mais utilizado, permanecendo como uma peça histórica sem uso prático, mas com imenso valor simbólico.

Imagem – Facebook da Prefeitura de Areias
A cidade de Areias, uma das primeiras a plantar café no Vale do Paraíba, possui um patrimônio histórico valioso, e a Matriz de Sant’Ana com seu sino é um testemunho dessa riqueza. Ela representa a fase de ouro do município, quando Areias se destacava politicamente e economicamente no cenário paulista e nacional. A igreja, iniciada em 1792 e concluída em 1874, ainda hoje impressiona por sua imponência arquitetônica e por seu valor histórico.
Embora já não se ouça mais o som do sino como antigamente, ele permanece ali, silencioso, como guardião da memória de Areias. É um elo entre o passado e o presente, lembrando a todos que visitam ou vivem na cidade sobre a importância de preservar a história, os símbolos e as tradições que ajudaram a construir a identidade do município.